Apelo a contributos /Call for Papers
Dossier: Austeridade e Regimes de bem-estar e de sexo/género
Coordenação: Virgínia Ferreira e Sílvia Portugal
Desde 2008 que a crise económico-financeira, social e política e as medidas políticas implementadas para a enfrentar têm provocado alterações significativas no que respeita aos níveis de bem-estar e proteção social de setores significativos da população, principalmente na Europa e na América do Norte. Marcadas pela austeridade e pela retração da despesa pública em proteção social e apoio ao crescimento económico, as políticas públicas têm exacerbado as desigualdades sociais, na medida em que tendem a privatizar os riscos sociais e a desregulamentar os mercados de trabalho. Apesar de a literatura sobre a atual crise e a austeridade ser já abundante, nela raramente encontramos uma perspetiva em que os impactos ao nível dos regimes de sexo/género sejam analisados.
Embora as primeiras manifestações da crise tenham atingido primordialmente os setores mais masculinizados do emprego, vários estudos têm vindo a mostrar que o emprego feminino não deixou de ser afetado principalmente como consequência das medidas de austeridade adotadas pelos governos para “combater” a crise, entre as quais se destacam os cortes nos apoios sociais, o aumento dos impostos e a redução dos efetivos da administração pública. O princípio do universalismo tem vindo a ser abandonado em favor da seleção. A generalização da condição da insuficiência de meios dos agregados familiares reforça o papel da família e reduz a autonomia das mulheres em áreas chave da cidadania, a nível individual, social e político. As mulheres são uma vez mais relegadas para a “caixa fechada” da família, de onde lutaram para sair ao longo das últimas décadas. A retração do estado de bem-estar formal leva a um reforço da “sociedade-providência” informal, cujo principal pilar é a família, que por sua vez tem no trabalho não remunerado das mulheres a sua principal fonte de sustentação. Resta, portanto, saber como o reforço do carácter contratualista do regime de cidadania e bem-estar, como via de acesso ao gozo de direitos sociais, tem implicado a transformação das relações sociais de sexo/género e as respetivas implicações em todas as esferas da vida pessoal, familiar, social, económica e política.
Estas mudanças colocam enormes desafios aos estudos feministas, sobre as mulheres e de género. Daí o interesse da ex æquo em coligir e visibilizar análises que incluam esta perspetiva, independentemente da área científica de onde provenham (estudos sobre as mulheres/de género/feministas, sobre políticas sociais, ou de áreas disciplinares como a sociologia, economia, direito, psicologia, etc.).
Neste dossier temático serão aceites contributos que tenham como objeto de análise as mudanças em curso nos regimes de bem-estar e de sexo/género em consequência das políticas de austeridade adotadas para fazer face à atual crise económico-financeira. São bem-vindos contributos incidentes quer sobre estudos de caso (de regiões, de países, de sectores económicos, etc.), quer adotem uma perspetiva comparada internacional. Embora outros tópicos não estejam à partida excluídos, serão privilegiadas as análises que reflitam teórica e empiricamente sobre os seguintes:
- Políticas de austeridade e modelos económico-sociais, de cidadania e de sexo/género;
- Análises feministas sobre os impactos diferenciais das políticas de austeridade nos padrões de segregação dos mercados de trabalho em regiões/países, sectores de emprego, trabalho remunerado/não remunerado e grupos sociais (em função do sexo, etnia, orientação sexual, classe social, idade, etc.);
- Efeitos da crise e das políticas de austeridade sobre os modelos de proteção social e as suas implicações nas relações sociais de sexo/género;
- Investimento social – mudanças e efeitos sobre a articulação da vida profissional e familiar;
- Discursos sobre a crise e as políticas austeritárias e respetivas implicações para as representações sobre as identidades e as relações de sexo/género;
- O regime de sexo/género e os limites do contratualismo;
- Endividamento e gestão dos orçamentos familiares;
- Desemprego jovem, precarização, limitações de acesso ao crédito para habitação – impactos sobre projetos de autonomização pessoal;
- O subfinanciamento de centros de investigação e impacto nos estudos feministas, sobre as mulheres e de género;
- Modalidades de mobilização coletiva e discursos de resistência às políticas austeritárias e respetivas implicações no gender gap;
- Exploração de futuros alternativos mais igualitários;
- Reemergência e resistência ao familismo;
Prazo de envio:
Envio de artigos com escrupuloso cumprimento segundo normas da revista até de 15 de março de 2015, ao cuidado de Virgínia Ferreira e Sílvia Portugal, responsáveis por este Dossier Temático, para apem1991@gmail.com.
Os textos que não respeitarem as normas quanto à extensão, à formatação e ao modo de citar e referenciar as fontes bibliográficas serão excluídos numa primeira triagem antes de serem submetidos a arbitragem. No prazo de quatro semanas após a data limite de receção, as/os autoras/es receberão a informação sobre os resultados da primeira triagem e a passagem à etapa seguinte, isto é, a submissão, sob anonimato, à dupla arbitragem científica do texto.
N.º 32 - To appear November 2015
Topic: Austerity, welfare and sex/gender regimes
Guest Editors: Virgínia Ferreira and Sílvia Portugal
Since 2008, the financial crisis and the political and social policy measures implemented for tackling it have caused considerable changes as regards the levels of welfare and social protection of significant sectors of the population, mainly in Europe and North America. Marked by austerity and the retraction of public expenditure in social protection and support for economic growth, public policies have exacerbated social inequalities, in so far as they tend to privatize social risks and to deregulate labor markets. Although the literature on the current crisis and austerity may be abundant, it is rare to find approaches that address their impact at the level of the sex/gender systems.
Although the first manifestations of the crisis affected primarily the male sectors of employment, several studies have shown that female employment was affected in a second stage as a result of the austerity measures adopted by Governments to "fight" the crisis. Among these the cuts in social support, tax increases and the reduction of civil servants stand out. In social protection, the principle of universalism has been abandoned in favor of selectivity. The generalization of household means testing reinforces the subsidiary role of the family and reduces the autonomy of women in key areas of citizenship, at the individual, social and political levels. Women are once again relegated to the "black box" of the family, from which they fought to escape over the last decades.
The withdrawal of the formal welfare state leads to a strengthening of the informal "welfare society", whose main pillar is the family, which in turn uses the unpaid work of women as their main source of support. We need, therefore, to understand/find out whether the strengthening of the contractualist character of the citizenship and welfare system has led to changes in sex/gender social relations, and if so how this has impacted the spheres of personal, family, social and economic lives of men and women.
Current changes pose enormous challenges to gender, feminist and women’s studies. Hence the interest of ex æquo to collect and give visibility to analyses undertaken under this perspective, regardless of the field they come from (sociology, economics, law, political science, psychology, etc.).
In this thematic dossier we welcome contributions focusing on ongoing changes in welfare and sex/gender regimes as a result of the austerity policies adopted to cope with the current economic and financial crisis. We call for contributions both on case studies (of regions, countries, economic sectors, etc.), or on international comparative analysis. Although other subjects are not excluded, we suggest the following:
- Austerity policies and socio-economic, citizenship and sex/gender regimes;
- Impacts of austerity policies on the patterns of labour market segregation in regions/countries, sectors of employment, paid/unpaid work and social groups (on the basis of sex, ethnicity, sexual orientation, social class, age, etc.);
- Effects of the crisis and austerity policies on social protection regimes and their implications for sex/gender social relations;
- Social investment – changes and effects on the work and family life balance;
- Discourses about the crisis and the austerity policies and their repercussions on the representations of sex/gender identities and relationships;
- Sex/gender regimes and the limits of contractualism;
- Debt and management of family budgets;
- Youth unemployment, precariousness, limitations of access to credit for housing – impacts on personal empowerment projects;
- The underfunding of research and impact on feminist, gender and women’s studies;
- Collective action and discourses of resistance to austerity policies and their implications for the gender gap;
- Exploration of alternative, more egalitarian futures;
- Reemergence of and resistance to familism.
Deadline for submissions:
Submissions should be sent until 15 March 2015 to apem1991@gmail.com, addressed to the guest editors Virgínia Ferreira and Sílvia Portugal.
The texts should follow the guidelines presented at http://www.apem-estudos.org/en/page/submissao-de-artigos. The papers that do not conform to these guidelines in terms of length, format, bibliographic citation and referencing will be immediately excluded and not considered for blind peer reviewing. The authors will be notified of this decision four weeks after the deadline for submissions.
Convocatoria de artículos/ Call for papers
Dossier: Austeridad y Regímenes de bienestar y de sexo/género
Coordinación: Virginia Ferreira y Silvia Portugal
Desde 2008 que la crisis económico-financiera, social y política y las medidas políticas implementadas para enfrentarla han provocado alteraciones significativas que no respetan los niveles de bienestar y protección social de sectores significativos de la población, principalmente en Europa y en América del Norte. Marcadas por la austeridad y por la retracción del gasto público en protección social y apoyo al crecimiento económico, las políticas públicas han exacerbado las desigualdades sociales, en la medida en que tienden a privatizar los riesgos sociales y a desregular los mercados de trabajo. A pesar de que la literatura sobre la actual crisis y la austeridad es ya abundante, en ella raramente encontramos una perspectiva en la que se analicen los impactos a nivel de los regímenes de sexo/género.
Aunque las primeras manifestaciones de la crisis han alcanzado primordialmente a los sectores más masculinizados del empleo, varios estudios han mostrado que el empleo femenino no dejó de ser afectado principalmente como consecuencia de las medidas de austeridad adoptadas por los gobiernos para “combatir” la crisis, entre las cuales se destacan los cortes en los apoyos sociales, el aumento de los impuestos y la reducción de los funcionarios de la administración pública. El principio del universalismo se ha ido abandonando en favor de la selección. La generalización de la condición de insuficiencia de medios de los agregados familiares refuerza el papel subsidiario de la familia y reduce la autonomía de las mujeres en áreas clave de la ciudadanía, a nivel individual, social y político. Las mujeres son una vez más relegadas a la “caja negra” de la familia, de donde lucharon para salir a lo largo de las últimas décadas. La retracción del Estado de Bienestar formal lleva a un refuerzo de la “sociedad-providencia” informal, cuyo principal pilar es la familia, que a su vez tiene en el trabajo no remunerado de las mujeres a su principal fuente de soporte. Resta, por lo tanto, saber cómo el refuerzo del carácter contractualista del régimen de ciudadanía y bienestar, como vía de acceso al goce de derechos sociales, ha implicado una transformación de las relaciones sociales de sexo/género y las respectivas implicaciones en todas las esferas de la vida personal, familiar, social, económica y política.
Estos cambios presentan enormes desafíos a los estudios feministas, a los estudios sobre las mujeres y de género. De allí el interés de ex æquo en recoger y visibilizar análisis que incluyan esta perspectiva, independientemente del área científica de donde provengan (estudios sobre las mujeres/de género/feministas, sobre políticas sociales, o de áreas disciplinarias como la sociología, la economía, el derecho, la psicología, etc.).
En este dossier temático serán aceptadas contribuciones que tengan como objeto de análisis los cambios en curso en los regímenes de bienestar y de sexo/género como consecuencia de las políticas de austeridad adoptadas para hacer frente a la actual crisis económico-financiera. Son bienvenidos artículos sobre estudios de caso (de regiones, de países, de sectores económicos, etc), o que adopten una perspectiva comparada internacional. Aunque otros tópicos no están excluidos de partida, serán privilegiados los análisis que reflexionen teórica y empíricamente sobre los siguientes temas:
- Políticas de austeridad y modelos económico-sociales, de ciudadanía y de sexo/género;
- Análisis feministas sobre los impactos diferenciales de las políticas de austeridad en los patrones de segregación de los mercados de trabajo en regiones/países, sectores de empleo, trabajo remunerado/no remunerado y grupos sociales (en función de sexo, etnia, orientación sexual, clase social, edad, etc.);
- Efectos de la crisis y de las políticas de austeridad sobre los modelos de protección social y sus implicaciones en las relaciones sociales de sexo/género;
- Inversión social – cambios y efectos sobre la articulación de la vida profesional y familiar;
- Discursos sobre la crisis y las políticas de austeridad y las respectivas implicaciones para las representaciones sobre las identidades y las relaciones de sexo/género;
- El régimen sexo/género y los límites del contractualismo;
- Endeudamiento y gestión de los presupuestos familiares;
- Desempleo joven, precarización, limitaciones de acceso al crédito para vivienda- impactos sobre proyectos de autonomía personal;
- El subfinanciamiento de centros de investigación y el impacto en los estudios feministas, sobre las mujeres y de género;
- Modalidades de movilización colectiva y discursos de resistencia a las políticas de austeridad y las respectivas implicaciones en el gender gap;
- Exploración de futuros alternativos más igualitarios;
- Re-emergencia y resistencia al familiarismo.
Plazo de envío:
El envío de los artículos deberá realizarse con escrupuloso cumplimiento de las normas de la revista hasta el 15 de Marzo de 2015, a la atención de Virginia Ferreira y Silvia Portugal, responsables de este Dossier Temático, a apem1991@gmail.com
Los textos que no respeten las normas en cuanto a extensión, formato, citas y referencias bibliográficas serán excluidos en una primera selección antes de ser sometidos a arbitraje. En el plazo de cuatro semanas luego de la fecha límite de recepción, las/los autoras/es recibirán información sobre los resultados de la primera selección y el paso a la siguiente etapa, es decir, al envío, bajo condición de anonimato, para una revisión por pares (peer review) del texto.